quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A alma dos objetos

Uma decoração com peças escolhidas segundo o gosto do dono, que sejam realmente usadas e tenham algo a dizer, traz magnetismo, transmite boa impressão e convida a ser desfrutada

Carol Scolforo

O resultado final da decoração não é o mesmo sem uma escolha benfeita de objetos. Pinçar uma peça de personalidade, que realmente faça sentido em um determinado ambiente ou cantinho, pode encher a casa de afeto e de vida, e assim transmitir um clima bom a quem entra ali, convidando a um interesse mais profundo. É uma relação inconsciente, que deixa claro que objetos têm alma, são dotados de emoções.

Parece um papo estranho, mas essa realidade é nítida no filme francês Horas de verão (L´heure d´été, 2008), do diretor Olivier Assayas, cujo elenco traz Juliette Binoche e Jérémie Renier. A história de uma família é contada, com suavidade, a partir do espólio que três irmãos receberão após a morte da mãe. Quando um deles se desapega de alguns raros vasos de cristal e doa um deles a um museu, percebe que, para muitos visitantes da instituição, aquela peça não faz sentido algum. Já enquanto pertencia à família, o vaso fez parte de capítulos importantes de sua vida.

Há uma explicação interessante por trás desse valor afetivo. “Criamos nosso cosmos. Damos significado às coisas e elas ganham simbologia. Por isso, é natural adotarmos objetos que nos façam sentido”, observa o filósofo Mário Sérgio Cortella. E você estava achando que o criado-mudo não dizia nada na decoração...
A questão vai muito além de simples apego. Objetos são uma extensão das ações humanas. Além de funcionais, eles também nos lembram quem somos. “As pessoas gostam de se ver no que expõem”, observa Cortella. É assim que se cria um espaço autêntico, irresistível – como deve ser a casa. “Somos uma subjetividade que precisa se objetivar”, completa. Ao mesmo tempo, acumular objetos sem real importância pode trazer desequilíbrio para a moradia. “Memórias são úteis. No entanto, desapegar-se do inútil, do que não faz mais sentido, é preciso.”

Cena do filme Horas de verão, de Olivier AssayasÉ claro que a casa precisa ter espaço para o novo. Ultimamente, do outro lado da vitrine há um design mais preocupado com essa química de sensações inéditas. “A emoção responde a um estímulo externo por meio de cor, forma, aroma, textura. Assim, podemos desenvolver produtos que intencionalmente provoquem um estado de ânimo”, diz a designer portuguesa Susana Paixão Barradas, que pesquisa o tema na Espanha. Outra preocupação moderna do design é melhorar relações sociais e interligar pessoas a ambientes. “O desenho de um objeto pode conectar pessoas, aproximá-las”, diz Donald Norman, no livro Emotional design – why we love (or hate) everyday things.

Por essas e outras, um design inovador pode, sim, custar caro. No entanto, como uma pesquisa da Universidade de Chicago já comprovou, os objetos mais preciosos que as pessoas guardam não têm custo alto. Pelo contrário. Fotografias ou objetos feitos à mão, se expostos, dão valor extra à decoração. Com criatividade, você pode tirar partido desses elementos e encher a casa de magnetismo.

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