sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Por um namoro sem território

Carol Scolforo

(matéria publicada em A Gazeta, em 07/06/2009)

Ninguém estranha ver pares de namorados se beijando, andando de mãos dadas ou escancarando chamegos no shopping, no aeroporto, no restaurante. Mas se ambos forem do mesmo sexo, o mundo para pra ver.E aí entra aquela velha questão, que muitos preferem nem trazer à tona: por que os casais homossexuais não têm o direito de namorar como os hétero? Por que ainda enfrentam olhares e até mesmo xingamentos quando caminham de mãos dadas, se abraçam ou se beijam em público?

Afinal, temos todos os mesmos direitos? Ou não?O advogado e professor de direito constitucional da FDV (Faculdade de Direito de Vitória) Kaleb Salomão garante que som. “A constituição brasileira assegura a liberdade de expressão, mas a sociedade brasileira não está moralmente preparada para ver um beijo homossexual”, observa ao mesmo tempo que garante: “Apesar disso, uma cena de namoro gay não pode ser considerada um ato obsceno na visão do direito. O direito não interfere em uma expressão de carinho entre pessoas do mesmo sexo”.

O direito assegura, mas em função do preconceito, a maioria dos casais opta por não beijar. Mas há quem não concorde com isso. “Como militante do movimento de lésbicas no Estado, eu beijo mesmo mina namorada. Para garantir meu espaço”, diz a mestre em educação Ariane Meireles, 43, á 6 meses apaixonada por Rosa Posa, também de 43 anos.

Ariane não mede carinho. Beija no aeroporto, anda de mãos dadas em todo e qualquer lugar, deita no ombro de Rosa no barzinho, como héreros fazem por aí, sem receber olhares maldosos. “Quando andamos de mãos dadas no aeroporto, as pessoas ficam imobilizadas. Olham. Olham. E olham de novo”, conta Ariane, que hoje, dá de ombros a esse comportamento. Já Rosa é diferente. Prefere medir os carinhos porque acredita que as pessoas podem encarar como uma afronta. Ariane continua descordando.

Casais homossexuais contam como se comportam em lugares públicosAcha que o casal gay não pode deixar de fazer aquilo que tem vontade – dentro dos limites, é claro – assim como fazem os héteros.“As pessoas têm medo de sair comigo pra barzinhos. A dona de um bar já pediu para pararmos de nos beijar, em Itaparica, porque os clientes estavam incomodados. Como minha namorada pediu pra não arranjarmos confusão, fiquei quieta”.

Ariane reconhece que seu comportamento é uma exceção,e vai além do medo que os homossexuais têm de demonstrar afeto no meio da multidão de olhares. Exatamente por isso ela ousa. “Já aconteceu de algumas pessoas não entrarem no banheiro comigo por saberem que sou lésbica”. Lembra, indignada.Apesar de fazer o que quer, gostaria de não ter que enfrentar olhares preconceituosos ou comentários de mau gosto. “Nós, homossexuais, não temos um espaço de liberdade. O que acontece muito são homossexuais promoverem suas festas particulares, onde todos podem se divertir sem medo porque se veem com igualdade, sem julgamentos”,observa.

Para ela, essas festas resolvem parte do problema, mas aceitar esse confinamento é uma alternativa ao desrespeito social, o que não contribui para abrir a cabeça das pessoas.

Diversão fica restrita à casa de amigos

Somente uma minoria escancara a relação. A maioria sai por aí como amigos, com mãos desgrudadas e olhares desviados, numa tentativa de esconder qualquer química afetiva. Assim, segundo eles mesmos, os pensamentos maldosos dos passantes ficam menos evidentes.“Andar de mãos dadas é um direito conquistado. O casal gay pode andar assim em shoppings, praias ou qualquer luar público. Mas não é nossa opção. Cada um age conforme sua consciência”, diz Jorge Castro, que á duas semanas se mudou para São Paulo com o namorado, Tiago Nunes Diniz.

“Podemos nos beijar no shopping? Sim”. Se não pensarmos que ali grande parte das pessoas são hétero e que seria um escândalo para elas. Se as pessoas aprendessem desde cedo que é natural um homem beijar outro homem, assim como é natural um homem beijar uma mulher, com certeza faríamos isso e não haveria escândalo”, diz Jorge.Até porque ele sabe que o preconceito, muitas vezes, vem em forma de socos e pontapés. Por isso, faz questão de ser discreto.” O desgaste público seria deselegante. Com o tempo, esse respeito virá”, acreditam. Assim, a diversão, para o casal, acaba tendo limites definidos.“Vamos a boates gays, ao quiosque Luí, na Praia de Camburi, ou, à casa de amigos mesmo. Lá, não somos julgados e não recebemos olhares de reprovação”.

Por algum tempo, Jorge e o namorado foram promoters da boate gay Move, o que facilitou ter mais contatos para se divertirem, como qualquer casal. Mas eles ressaltam que as opções de lazer ainda são poucas. Em Vitória, há uma boate e um quiosque e em Vila Velha, duas boates e três bares.Em locais com o rótulo GLBT, ninguém precisa se preocupara. Já na fila do cinema capixaba, por exemplo qualquer afeto é registrado, o que, segundo eles, não acontece em São Paulo, onde vivem. “Vitória é uma cidade linda, tem clima gostoso, é o melhor lugar para se viver. Mas é uma cidade pequena. As pessoas ainda são muito fechadas. São Paulo é diferente. Tudo é mais natural”, avaliam.

Não é à toa que lá eles se permitem dar as mãos no metrô ou na fila do cinema. Isso sem contar com a variedade de opções de serviços e lazer para os gays. Casas noturnas, lojas, salões de beleza, restaurantes e pubs específicos para o público GLBT se multiplicam na Terra da Garoa. “Não por acaso, a maior parada do orgulho GLBT acontece aqui”, diz Thiago.Homossexuais contam como se comportam em lugares públicosAcha que o casal gay não pode deixar de fazer aquilo que tem vontade – dentro dos limites, é claro – assim como fazem os héteros.“As pessoas têm medo de sair comigo para barzinhos. A dona de um bar já pediu para pararmos de nos beijar, em Itaparica, porque os clientes estavam incomodados. Como minha namorada pediu pra não arranjarmos confusão, fiquei quieta”.

Ariane reconhece que seu comportamento é uma exceção, e vai além do medo que os homossexuais têm de mostrar afeto no meio da multidão de olhares. Exatamente por isso, ela ousa. “Já aconteceu de algumas pessoas não entrarem no banheiro comigo por saberem que sou lésbica”, lembra, indignada.Apesar de fazer o que quer, gostaria de não ter que enfrentar olhares preconceituosos ou comentários de mau gosto. “Nós, homossexuais, não temos um espaço de liberdade. O que acontece muito são homossexuais promoverem suas festas particulares, onde todos podem se divertir sem medo porque se vêem com igualdade, sem julgamentos”, observa.

Para ela, essas festas resolvem parte do problema, mas aceitar esse confinamento é uma alternativa ao desrespeito social, o que não contribui para abrir a cabeça das pessoas.

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