terça-feira, 11 de agosto de 2009

Tem que participar!

Participe. Nada de comprar o brinquedo mais bombado do mercado. Seu filho precisa compartilhar suas descobertas Participação.

CAROL SCOLFORO

Uma infinidade de receitas, fórmulas mágicas, livros, jogos, e até brinquedos têm feito brilhar os olhinhos dos pais. É só ter na embalagem alguma alusão à inteligência infantil, e lá estão famílias inteiras, juntando todos os centavos para adquirir o produto e, conseqüentemente, aumentar o QI (Quociente de Inteligência) de seus filhos. Mas a coisa não é tão simples assim. Não se compra inteligência em prateleiras.

Aliás, depois de muitos estudos, os neurocientistas ainda nem conseguiram descobrir o seu conceito. E também não sabem quais estímulos poderiam acelerar o aprendizado, para serem criados pequenos gênios. “Sabe-se somente que a inteligência é um conjunto de capacidades e que uma parte desse conjunto estaria definida pela genética, e a outra, sem definição, estaria aberta às estimulações”, diz a neurocientista Suzana Herculano Houzel.

E é aí que surgem alguns mitos, passados de geração a geração. Dizem, por exemplo, que a fase de ouro do aprendizado iria até os dois anos de idade. Uma afirmação sem fundamento, na opinião da neurocientista Suzana. Outro erro, para ela, é afirmar que música clássica aumentaria a agilidade do aprender. “A música é, sim, importante. Mas sozinha não ativa o cérebro nesse sentido, embora estimule a concentração”.

EMOÇÕES
Mas antes que pais e mães de plantão fiquem desesperados, há uma boa notícia: já está provado que estímulos significativos, que envolvam emoção, podem, sim, aumentar a capacidade intelectual da criança. Só que para isso não são necessários grandes investimentos em brinquedos multicoloridos e musicais. Para os especialistas, o investimento deve ser outro. Em curiosidade, que desperta a vontade de ler para ter a resposta, e em diversas brincadeiras educativas, de preferência na companhia dos pais (veja o quadro ao lado). “As pessoas pensam que estimular é encher a criança de informações visuais e sonoras. Isso é um erro, pois o cérebro só consegue lidar com uma informação por vez. Só retemos no cérebro as informações que nos fazem sentido”, destaca a neurocientista Suzana.

TEMPO
Por isso, em vez de comprar o Play Station mais avançado do mercado, o que você acha de tirar um tempo com seu filho para criar quebra-cabeças, feitos de jornais, ou assistirem juntos ao desenho preferido dele? Especialistas garantem que um número muito grande de informações e de brinquedos pode, ao contrário, gerar bebês e crianças estressados, em vez de adultos inteligentes. Em resumo, a única certeza dos especialistas é que a estimulação se dá com alegria, convívio e emoções. Só assim, a atividade se torna eficaz. Invista nisso!

Os tipos de inteligência

O Teste de Quociente de Inteligência (QI) foi criado apenas para identificar atrasos no desenvolvimento do intelecto, de acordo com a idade da pessoa. Entretanto, mesmo que esse teste tenha identificado que seu filho tem idade mental avançada, é complicado afirmar que ele é mais inteligente que seus amigos. Isso porque o que passa a ser valorizado, agora, são outros tipos de inteligência, que vão muito além do raciocínio ágil e da boa memória. O psicólogo Howard Gardner, da Universidade de Harvard, criou a teoria da múltipla-inteligência, que identifica sete estilos de pensamento e aprendizagem. Veja abaixo:

Inteligência lingüística.
É a inteligência que fornece as bases para informar, persuadir, discutir, ensinar e entreter. As crianças com essa inteligência elevada gostam dos sons das palavras.

Inteligência lógico-matemática. É a facilidade de trabalhar com números e seqüências lógicas. Inteligência espacial. É a capacidade de conceitualizar imagens mentais e fotografias. São bons detalhistas visuais.

Inteligência musical. É o talento para produzir ritmos e melodias. Para identificá-lo, basta conseguir diferenciar duas partes relativamente semelhantes de música.

Inteligência cinestésica. Muitos ainda não aceitam que esse tipo de inteligência exista. As crianças que possuem essa inteligência são práticas, e participam ativamente de tudo.

Inteligência intrapessoal. Esta lida com o domínio do eu interior. É a capacidade de identificar suas sensações e distinguir variações da mesma emoção. Incita à auto-análise, ao autodomínio. Inteligência interpessoal. Liga-se ao trabalho com os outros. São pessoas que reconhecem humores e necessidades dos outros, inclusive dos adultos.

Aprendizado lento não é problema

Crianças que têm problemas de aprendizado – ou se mostram mais lentas que o restante da turma – podem recuperar o tempo perdido e acompanhar os colegas, sem problemas. Mas, para isso, há o jeito certo de acelerar seu desenvolvimento. Após anos de trabalho específico com esses casos, a estimuladora infantil Sheila Loureiro Carasso afirma já ter bons resultados. Em sua clínica, faz estimulações sensoriais e psicológicas, e diz que a maioria dos problemas acontecem quando, ainda na primeira infância, é pulada alguma fase, como o engatinhar, por exemplo.

“Precisamos passar por todas as fases para o cérebro ter um padrão de aprendizado ideal, que se dá com um bom gerenciamento de informações. Ou seja, se a pessoa retém a informação, e sabe onde encontrá-la, é porque aprendeu”, aponta. Na clínica, há um setor de inteligência, com fonoaudióloga, psicopedagoga, psicomotricista e um estimulador sensorial. Sheila diz que a auto-estima é bastante trabalhada, nessa área. Além disso, ensina às mães o jeito certo de ativarem sensações em seus bebês, com cursos específicos, mostrando como eles se desenvolvem, e como evitar problemas futuros de aprendizado.

Mitos e verdades

1. É verdade: Crianças que memorizam fatos isolados nos primeiros anos de vida, a longo prazo, não demonstram maior capacidade de reter a informação que outras.

2. É mito: Ouvir música clássica desde o útero ajuda a desenvolver crianças mais inteligentes. Segundo especialistas, isso nunca foi comprovado.

3. É verdade: Crianças que aprendem brincando desenvolvem suas habilidades sociais e emocionais cruciais para sucesso a longo prazo.

4. É mito: Certos brinquedos ou programas educativos são eficazes para o desenvolvimento do cérebro. Segundo especialistas, isso é marketing e vende absurdamente.

5. É verdade: Alguns programas de TV, como Barney e Teletubbies, são repetitivos, mas eficazes para as crianças. Têm aprendizado comprovado quando os pais assistem junto a seus filhos, acrescentando informações.

6. É mito: Os dois primeiros anos de vida são o período em que o cérebro mais se desenvolve. Comprovadamente, nosso cérebro está em constante desenvolvimento, e principalmente na adolescência ele tem aprendizado bastante acelerado.

7. É mito: O ambiente precisa ter muitos estímulos visuais e sonoros para facilitar o aprendizado. Isso, inclusive, pode causar estresse infantil. Os estímulos devem ter algum significado para serem armazenados no cérebro.

Fonte: Especialistas entrevistados


Quanto mais cedo, melhor?

Facilidade. Arthur, 5, e Letícia, 3, aprendem inglês brincando Letícia Rassele Soprani tem só 3 anos, mas já fala algumas palavras em inglês, e pergunta a mãe, o tempo todo, como se fala isso ou aquilo na língua. O irmão, Arthur, tem só 5 anos e já canta algumas músicas americanas. A mãe das crianças, a professora Maria José, 41 anos, admite que é cedo para eles aprenderem outro idioma, mas não tem nenhum receio de que isso possa prejudicá-los. Pelo contrário. Acha que quanto mais cedo, melhor. Será que ela está certa? A resposta ainda divide os especialistas. Por um lado, o neurologista infantil da Faculdade de Medicina da UnB, Carlos Nogueira Aucélio, afirma que aulas de um novo idioma só têm eficiência após a alfabetização. “Antes disso não há ganhos reais”, diz ele. Já a neurocientista Suzana Herculano-Houzel é categórica: “Mães que colocam seus filhos cedo no inglês estão certíssimas. Com a variedade, o cérebro fortalece suas conexões e o aprendizado acontece naturalmente e muito mais rápido”, diz ela, acrescentando que aprender brincando, como acontece com Letícia e Athur, é o melhor caminho para a assimilação.

A mãe, Maria José, que aprendeu com dificuldade o inglês aos 21 anos, fica feliz. “Eles vão crescer com a pronúncia certa, sem sotaques. Já entram em sites interativos, e, mesmo que não aprendam as coisas a fundo, vão ‘internalizando’ sons. No futuro, sentirão a diferença”, aposta.

Serviço: Ann Marie Guimette. PhD em Psicologia social e pesquisadora do desenvolvimento infantil. Íntegra de sua pesquisa no site www.omo.com.br Carlos Aucélio. Professor de neurologia infantil da UnB. Espaço Aberto. Clínica de Reabilitação Neuropsicomotora. Katia Chedid. Psicóloga especializada em neuropsicologia. Site: www.katiachedid.com.br Livro Einstein Teve Tempo Para Brincar. Diane Eyer, Kathy Hirsh-Pasek e Roberta Michnik Golinkoff. Editora Guarda-Chuva. R$ 34,00 Livro O ser pai. Manoel Nascimento Rocha. Marilena Flores Martins. Pesquisadora da Associação Brasileira pelo Direito de Brincar (IPA) Suzana Herculano-Houzel. Neurocientista e membro da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC). Site: www.cerebronosso.bio.br * Agradecimento: Yázigi Internexus Praia do Canto.

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