terça-feira, 11 de agosto de 2009

Santa beleza

Não é heresia: padres bonitos têm atraído mais gente à Igreja. Conheça o lado deles nessa história

Carol Scolforo
ascolforo@redegazeta.com.br

Você sabia que quando o padre Fábio de Melo veste batina é três vezes mais assediado do que nos dias em que está, digamos, à paisana? Pois é, há uma certa efervescência do público feminino por sua beleza e carisma, mas também pelo clégima em seu colarinho, o que o identifica como um homem proibido a todas as mulheres. E como se isso não bastasse, há ainda seu visual. Padre Fábio vive impecavelmente vestido, com barba feita, cabelo bem cortado e sobrancelhas aparadas.

Se não fosse um homem de Deus, poderia muito bem ser considerado um metrossexual. E quem pensa que isso é um problema para ele, se engana. “Me cuido mesmo e faço musculação. Essa coisa de ‘quanto mais feio, mais santo’ é bobagem. Jesus arrastou o tanto de gente que ele arrastou porque, certamente, era sedutor”, já declarou ele, que embora seja “moderno” não questiona algumas posições da Igreja, como a obrigatoriedade do celibato.
Instituído pela Igreja Católica há séculos – e questionado vez ou outra – ele traz uma outra questão à Igreja: o assédio das mulheres por padres que a cada dia estão mais distantes do esteriótipo velhinho-baixinho-gordinho. Aqui mesmo no Estado não é difícil encontrar padres bonitões, inteligentes, carismáticos e modernos, que fazem sucesso além de suas comunidades. Só que, pelo menos por aqui, a modernidade não é tanta a ponto de fazer com que eles deem entrevistas.

Felizmente, encontramos dois padres que além de belos fisicamente, foram corajosos o bastante para desmistificar o tabu. E deixar bem claro que não é porque veem o tema com leveza que as mulheres podem ter certas liberdades. Nesse ponto, me perdoem as modernas, mas respeito é fundamental.

A vocação é mais bonita

Padre Eduardo Magalhães já sofreu muito por ter estilo e carisma. Recebia flores, serenata na janela, e até cartas apaixonadas. “Um dia, estava na moto e uma menina me jogou o celular. Depois, ligou pra ele, do celular de uma amiga”, lembra ele, que também já ouviu muita piadinha. Padre Eduardo, fica até constrangido de comentar, mas com uma coisa ele não concorda: “Já me disseram que gente feia é que tinha que ser padre. Pode?”, pergunta ele, que se define irreverente até em função de trabalhar com jovens.

“Tenho carro, moto grande e isso chama atenção. Mas esse é meu jeito de ser. Gosto de coisas boas, como todo mundo gosta”. Como, por exemplo, ir à praia. De sunga mesmo, como todo homem vai. “Engraçado que as pessoas pensam que padre não é homem. Eu sou um homem, como qualquer outro. Apenas fiz uma escolha. Sou normal, mas tenho uma vocação. Gosto de mulher, mas é justamente por isso que renuncio a elas. As pessoas acham que padre é padre porque teve alguma decepção amorosa, mas não tem nada a ver”.

E padre Eduardo diz isso com experiência. Antes de ser seminarista, namorou 1 ano e 8 meses. Depois, quando já era seminarista, quis fazer uma experiência e ficou três meses fora do seminário. “Conheci uma outra menina, por quem me apaixonei, mas o chamado do Senhor foi mais forte. Ela entendeu. Disse que não poderia competir com Deus”, lembra. A partir de então, padre Eduardo move multidões, de 5 a 10 mil pessoas, com seu jeito de celebrar. Aliás, ele é popular muito antes de padre Marcelo ou o próprio padre Fábio ficarem famosos. “Como sou muito popular, as pessoas reparam com quem eu ando. E criam uma imagem.

O traje de padre chama atenção, mas isso não pode subir à cabeça. Quando se tem claro o objetivo de vida, fica mais fácil. Ajo naturalmente porque as coisas estão bem claras no meu coração. Pessoas bem-resolvidas sabem lidar com qualquer situação”.

Realmente, é muita informação

O filme Anjos e Demônios, detestado pela Igreja Católica, traz um belo padre. Só tem um problema: o carmelengo, como é chamado o braço-direito do Papa, é o próprio mau caminho, já que não é do bem coisíssima nenhuma. Longe da ficção, o Estado do Vaticano há tempos exibe seus padres mais bonitos em um calendário em preto e branco.

Ao contrário do que muitos pensam, o calendário não é uma iniciativa da Igreja Católica, e sim do próprio Estado, que divulga notícias turísticas e dados sobre o passado e o presente. As primeiras folhinhas com as fotos dos religiosos foram publicadas em 2003. Segundo a Igreja, o objetivo da publicação é levar informações sobre o Vaticano para a população - e não instigar quaisquer tipos de pensamentos pecaminosos. O calendário pode ser comprado em bancas de jornal nos arredores de Roma ou pela internet (o calendário inteiro custa dez Euros).

A Santa Sé garante que a proposta é priorizar a informação. É, como você pode ver na seleção de padres, acima, é, realmente, muita informação. O belo pode estar longe do erótico Padre Rogério Guimarães: “Para a autoestima, é bom ouvir elogio. Mas é bom não deixar crescer isso dentro da gente”Rosângela Venturi Além de bonito, carismático e tranquilo, o padre Rogério Guimarães de Almeida Cunha é um homem sábio. E talvez esteja aí todo seu magnetismo e ao mesmo tempo toda a sua experiência e estratégias para vencer certos tipos de assédio, o que – cá entre nós – não é nada fácil. “Passei por uma situação, certa vez, muito complicada. Uma mulher casada vivia dando indiretas, sabe? Percebi, e mantive a distância certa”, resume ele, há 3 anos cuidando da paróquia de Soturno, próximo a Cachoeiro de Itapemirim. Mas o que ele não esperava eram os capítulos seguintes.

“Mesmo com a distância que estabeleci, um dia ela chegou e me disse, claramente, que estava apaixonada. Eu disse apenas que não podia dar nada a ela. Depois disso, nunca mais a vi na Igreja. O engraçado é que aparentemente ela era bem casada”, conta o padre, que ficou chateado com o episódio. “Esse tipo de comportamento por interferir muito na sua vida, porque você não sabe do que a pessoa é capaz. Quando uma pessoa chega a esse ponto, não se sabe o grau de sanidade dela. É uma situação ruim. Ela pode inventar coisas a seu respeito, chantagear você...” Padre Rogério tem razão e criou até estratégias para se resguardar desse tipo de coisa. “Além de conversar com padres mais antigos, sempre que vou a visitas levo mais duas pessoas comigo. São 2 testemunhas que confirmam o que fiz”.

O episódio com essa mulher o ajudou a amadurecer ainda mais o fato de negar sentimentos humanos de carência – afinal, padre também é homem, e Rogério, antes de tomar sua decisão pelo sacerdócio, já namorou. “A formação do seminário nos ajuda a integrar o celibato à vida diária. Ela nos ensina a viver feliz, realizado, como homem, sabendo que nossa opção de vida é o celibato. Trabalhamos nosso afeto definindo bem o amor ao reino de Deus, e cultivando amizades com casais, famílias, e pessoas da comunidade”.

ELOGIO É BOM

No entanto, não pense que por isso padre Rogério não gosta de um elogio. “Para a autoestima, é bom ouvir elogio. Mas também é bom não deixar crescer isso dentro da gente”. Até porque alguns elogios são maldosos. “Uma vez ouvi o seguinte: ‘Nossa, que pecado, um padre bonito e tão novo’”. Pra não sair da linha, na hora de dar uma resposta mais enérgica, padre Rogério lembra que a ética norteia suas bases. “O código de direito canônico fala, por exemplo, para estar atento ao confessionário e ser objetivo. E prestar atenção nas demandas que a pessoa traz, se são religiosas, ou afetivas. Muitas vezes as pessoas transferem relações paternais ou veem no padre um homem bom que o marido não é”. Por ser jovem, padre Rogério tem atraído (para a Igreja) muitos jovens também. Ele, inclusive, espalha notícias de missas pelo Orkut e está celebrando missas fora de igreja, o que tem dado muito certo. Aliás, é fora da Igreja mesmo que ele tem que dar exemplo. “Fui ao show do Victor e Léo, um dia desses.

O papa Bento XVI disse que devemos ser identificáveis por nosso testemunho de fé, por nossa cultura, por nossas atitudes e pelo modo de se vestir. Em qualquer âmbito da cultura. Claro que há eventos que não devo ir, mas há outros em que sua atitude cabe. A própria Igreja pede que os paramentos sejam bonitos. Beleza e Deus sempre estiveram identificados”. O calendário do Vaticano, em sua opinião, é uma boa jogada de marketing que transporta a beleza, do tabu à pureza. “A beleza não precisa ser erótica, embora não deixe de chamar atenção”

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